Sem apoio, Wercley Carneiro cogita encerrar a carreira de ouro precocemente, iniciada no paratletismo
Nesta sexta-feira (18), a Policia
Federal deflagrou a Operação Havana, para apurar possível desvio de recursos do Bolsa
Atleta do Ministério do Esporte da ordem de R$ 1 milhão, pela inclusão no
programa de atletas fantasmas.
Enquanto isso, no cruzamento das Avenidas Abolição
com Senador Virgílio Távora, na Aldeota, um dos Bairros das mais nobres da
cidade de Fortaleza no Ceará, o paratleta cearense, Wercley Carneiro (37), corre contra o tempo e pede ajuda financeira para
participar do Campeonato Brasileiro de Paracanoagem entre os dias 31 deste mês
e três de setembro próximo em Curitiba-PR.
Quando o sinal fica vermelho para os automóveis, Wercley
aproveita e exibe as medalhas conquistadas em 15 anos enquanto paratleta de
alto rendimento, principalmente, a mais preciosa delas: Campeão da Copa Brasil
de Paracanoagem, adulto, na prova dos 200m, categoria canoa V1/ VL2, ganha em 11 de março deste ano no Parque Náutico do
Iguaçu, em Curitiba – PR.
O medalhista disse que quando os
carros param “é o momento no qual o sinal fica verde para a solidariedade de
motoristas e pedestres”.
Ele informou que o dinheiro arrecadado no semáforo da
Aldeota, servirá também para custear sua participação no Campeonato
Sulamericano de Paracanoagem, de 15 a 18 de novembro próximo, em Lima (Peru),
nas categorias Canoa Polinésia e Havaiana.
“Tenho muitas despesas:
hospedagem, alimentação, academia e suplementos entre outros itens e,
Infelizmente, não tenho outra renda. Ou eu treino ou trabalho. Os dois juntos
não dá, pois cai meu rendimento. Pedir é a única forma que eu tenho para conseguir
os recursos que preciso”, pontuou o medalhista.
Sobre auxílios de fonte oficial para
sua pratica esportiva, o paratleta disse que recebeu, em 2006, o Bolsa Atleta
estadual, há época. fixado em um valor médio mensal de R$ 260,00.
“Lembro que
recebi. O dinheiro era pouco. Não dava pra nada. Mesmo assim, só depositaram
quatro parcelas das 12 a que eu tinha direito. Eu ia lá no banco e nada de
dinheiro”, denunciou Carneiro.
Wercley descobre seu talento no lançamento de disco
Diagnosticado com deformação dos
membros inferiores ao nascer, em decorrência da sua mãe ter usado a Talidomida
durante os primeiros meses de gestação, só em 2001, aos 22 anos, Wercley
começou a competir no atletismo paralimpico nas provas de arremesso de peso,
lançamento de disco e de dardo.
Nesses 15 anos dedicados a três, das dez, provas do decatlo,
seu talento se revelou, principalmente no lançamento de disco, modalidade na
qual foi campeão em todas as paralimpiadas realizadas no Ceará.
Em duas participações
no Circuito Brasil Paralimpico Caixa se destacou em duas provas. Campeão no arremesso de peso, em 2004 e 2005,
nas etapas de Belém e Fortaleza respectivamente e vice-campeão no lançamento de
disco nas mesmas competições.
“Mesmo com
dificuldade para conseguir verba, sempre estive entre os seis melhores
paratletas de lançamento de disco do pais”, revelou o cearense.
De fato, em 2015, Carneiro, comprovou sua performance no
lançamento de disco ao ser vice-campeão mundial do Circuito internacional
Caixa, categoria F56, realizado em São Paulo-SP, com a participação de 24
países.
Do atletismo para a canoagem
Em 2016, cansado da dura rotina de angariar recursos nas
ruas da cidade e dos treinos estafantes e solitários na pista de atletismo, o desportista
migra para a canoagem em busca da tranquilidade e do visual agradável das lagoas.
Com as vitórias, resolve também, buscar fontes de patrocínio oficiais mais
robustas que financiem sua preparação nas competições oficiais da Confederação Brasileira
de Canoagem e Paracanoagem (CBCA) e da Confederação Brasileira de Canoa Polinésia
e Havaiana (CBVA’A) no Brasil e no exterior.
Novas fontes de patrocínio
Em 15 anos coletando doações nos sinais de trânsito, o
cearense, natural do município de Caucaia, viajou para os mais diferentes
lugares de competições. Agora, que busca
o apoio da Secretaria de Esporte e da Juventude de Caucáia e da Secretaria de
Esportes do Estado do Ceará (Sesporte), encontra dificuldades para captar
patrocínio, por uma série de fatores.
Segundo Wercley uma dessas barreiras é a burocracia. “Na Secretaria
de Esporte de Caucaia, por exemplo, onde solicitei verba de viagem, que
inclui hospedagem, alimentação e transporte interno, a principal dificuldade é
que todo dia me ligam e pedem documentos e mais documentos e nada resolvem”,
criticou o caucaiense.
O Ceará na contra mão da Paracanoagem
O pioneiro dessa modalidade de esporte paraquático, destacou
outro obstáculo para a liberação de verbas referentes as passagens aéreas, por
exemplo, que seriam fornecidas pelo Governo do Ceará.
“Nosso estado não tem uma
federação de paracanoagem constituída, o que me obrigou a me filiar em um clube
carioca [BRA Va’a Canoe Club na Marina da Glória, praia do Flamengo-RJ] para
que eu pudesse participar das competições”, detalhou Carneiro.
Fato esse, que, de acordo com o paratleta, “vai de encontro as
regras estabelecida via edital”, o que, impede a Sesporte de fazer o aporte
financeiro ao atleta filiado em clube de outro estado, que não do Ceará,
ocasionando, com isso, o bloqueio do valor da passagem aérea.
Treino improvisado
O mar de adversidades enfrentado pelo medalhista não para
por ai. Seu barco profissional (fruto de doação) está, há cinco meses, no Canoe
Club no Rio de Janeiro, aos cuidados do seu treinador, Jorge Sousa de Freitas.
Enquanto não consegue trazê-lo para Fortaleza, treina na Marina do Mucuripe em um
caiaque amador, emprestado, sem a padronização que exige a competição da CBCA
Veja video do treino
“O secretário Euler Barbosa me disse, em reunião, que a
Sesporte ia arcar com o transporte do meu barco do Rio pra cá, mas não o fez”. Tenho
orgulho de representar o Ceará, mas da Secretaria de Esportes, tenho vergonha”,
disparou o medalhista de ouro contra Euler.
O começo do fim
Mesmo classificado para o mundial de 2018 no Tahiti (Oceania),
o pioneiro da paracanoagem cearense, dá sinais de cansado por remar contra a
maré da falta de apoio e cogita a possibilidade de aposentar-se prematuramente.
“Se me ligarem dizendo que desbloquearam a passagem, pode ser que eu vá para Brasileiro
neste 31 de agosto, e lá encerro minha carreira. Porque o estresse de outra
romaria de documentos para Sulamericano em Lima-Peru, em novembro, eu não aguento”,
desabafou Wercley Carneiro.
Para saber mais veja o vídeo na TV OAB com um pouco mais da história
desse guerreiro:
Serviço:
Doações: Banco do Brasil
Agencia nº 12.18-1
Conta Corrente nº 62202-8
Titular: Wercley Carneiro
Reportagem especial: Uerbet Santos
Fotos e vídeos: arquivo pessoal de Wercley Carneiro
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