QUANDO UM SIMPLES BOATO VIRA UMA AVALANCHE
O recente boato de que o Programa Bolsa
Família do Governo Federal iria acabar gerou uma verdadeira peregrinação de 900
mil beneficiários às agencias da Caixa para sacar aquele que seria o último
recebimento do Bolsa. Representantes da Caixa e a assessoria da presidência em nota e em entrevistas na grande mídia, trataram de desmentir rapidamente a falsa informação,
mas o estrago já estava feito. Em vários estados brasileiros as cenas de tumulto
nas agencias, confusões e quebra-quebra
se multiplicaram rapidamente. O boato ainda ganhou desdobramentos, uma nova
versão afirmava que o Programa Bolsa Família não iria acabar e sim que seria
dado um bônus, referente ao Dia das Mães.
Boataria
desfeita, a Presidenta Dilma informou que a Policia Federal vai apurar os fatos
para saber a origem desse boato. Mas, para
o antropólogo José Guilherme Cantor Magnani, da USP que pesquisa o assunto, rastrear
a origem de um boato não é uma tarefa
fácil , “só numa pequena cidade do interior, onde a rede de relações é quase
transparente, um boato pode ser rapidamente checado: é possível saber sua fonte
e restabelecer sua cadeia de transmissão, pois todos se conhecem”.
ORIGEM DO BOATO
O
boato é a forma de comunicação mais antiga e popular que se tem conhecimento. Vem
do latim boatus, significando “mugido, grito agudo”. Na Antiga Roma, os
imperadores, cientes de que a plebe gostava tanto de um rumor quanto de uma
luta de gladiadores, nomearam os delatores (do latim delatio, que significa
contar, referir), cujo trabalho era circular pelas ruas e levar ao imperador a
vox populi. Caso os boatos fossem prejudiciais à imagem do imperador, os
delatores, como agentes desse verdadeiro serviço nacional de informações,
versados nas artes da guerra psicológica adversa, lançavam boatos em sentido
contrário. Daí o boato de que Nero colocou
fogo em Roma, cujo incêndio ,na verdade, foi gerado por uma minoria
cristã descontente e atribuído ao imperador devido a sua impopularidade.
BOATO NO BRASIL
O Brasil é um campo fértil para
boatos com exemplos históricos. Quem não lembra da polêmica em torno da doença do Presidente Tancredo Neves,
cujo os rumores apontavam para uma cirurgia de urgência ,não por doença,
mas pelo fato dele ter sofrido um atentado a tiros? A jornalista Gloria Maria
também contribuiu involuntariamente para que os rumores sobre o atentado contra
o presidente Tancredo ganhasse força, ao deixar de fazer algumas aparições em
rede nacional divulgando os boletins médicos sobre o estado de saúde do
Presidente, comentários davam conta de que a jornalista teria sido também alvo
de tiros durante a investida contra Tancredo Neves.
TODO BOATO TEM UM
FUNDO DE VERDADE.
Podemos afirmar que todo boato tem alguma verdade a ensinar
sobre o comportamento das pessoas e o funcionamento das sociedades em que elas
vivem? Na visão do sociólogo francês Jean-Noël Kapferer, sim! E por acreditar
nessa crença ele catalogou mais de 10 mil boatos e com esses dados escreveu o
livro Rumeurs (Rumores) onde o
“Caça Boatos”, como é conhecido, tenta explicar como eles nascem, crescem e sobrevivem.
Para o controverso sociólogo nem todo
boato é falso e nem toda notícia é verdadeira. “O boato”, escreve ele, “recria o
processo do ouvi dizer, de forma
acelerada, de modo a torná-la perceptível”. E você: checa uma informação ou
acredita piamente que ela é verdadeira? Eu, tenho cá minhas dúvidas sobre o “ouvi
dizer”...
Artigo por Uerbet Santos
Fonte de pesquisa: Revista Super interessante
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