Carolina
é uma menina como tantas outras da sua idade. Com apenas cinco anos, já demonstra
senso de responsabilidade. Acorda cedo para ir à escola sem que sua mãe precise
chamá-la. Faz seus trabalhos escolares e seu dever de casa todas as tardes
sentada na varanda da sua casa com a ajuda da tia. Adora cantar. Querida por todos. O xodó das amiguinhas do colégio, da
vizinhança, dos professores e familiares. Seus olhos parecem o céu de tão
azuis, irradiando o brilho da felicidade. Seu sorriso, cativante. Seus pais a tem
como uma pérola, uma benção de Deus, já que é filha única. Seus cachinhos
loiros chamam a atenção. Elogios não faltavam àquela doce criança, dona de uma
beleza inocente de menina dando sinais de que no futuro será uma linda mulher.
Seus
pais, João e Berenice, católicos e devotos de São Judas Tadeu, o Santo das
causas perdidas, vão à missa todos os sábados para pagar uma promessa prometida
em função de uma enfermidade da filha.
Aos dois anos, Carolina foi diagnosticada com um tipo maligno de câncer:
leucemia linfocítica aguda. Os médicos não alimentaram esperanças de cura para
o caso de Carolina. Mas, contrariando a tudo e a todos, com o tratamento feito e
a fé em Deus dos seus pais, ela ficou curada.
Para
agradecer a graça alcançada, o pai e a mãe de
Caroline, iam todos os sábados à
tarde à igreja de São Judas Tadeu rezar. Caroline também os acompanhava, mas, enquanto seus pais oravam, Carol e as demais
crianças ficavam no pátio externo da Igreja brincando.
Foi
numa dessas idas à Igreja, ao final da missa, que os pais de Carol sentiram a falta
da filha. Num primeiro momento pensaram que ela tinha ido sozinha pra casa.
Mesmo assim, acharam estranha sua atitude, pois ela, apesar de conhecer o
trajeto, nunca tinha voltado da Igreja
sem os pais. Preocupados, perguntam aos seus coleguinhas se a viram.
Clara
amiga de Carol responde:
-
Ela tava conversando com o homem lá no
portão!
Clara
se referia ao portão lateral do pátio da Igreja que assim como o portão
principal também dá acesso à rua.
O
pai de Carol questiona Clara:
-
Que homem era esse?
Clara
pensa um pouco e fala:
-
Parecia um mendigo, mas era um desses homens que catam latinhas no lixo!
Outro
amiguinho que brincava com Clara e Carol
também fala sobre o que viu:
-
Ele chamou a Carol e mostrou uma boneca
pra ela.
Clara
completa:
-
Enquanto eles conversavam a gente continuou brincando, depois disso ela não
voltou mais.
Os
pais de Carolina se desesperam. A mãe fica aos prantos. E grita sem parar:
-
Oh meu Deus! Eu quero minha filha! Eu quero minha filha!.
Seu
João mobiliza a comunidade na saída da igreja e fazem uma busca rápida nas redondezas.
Vários recicladores são abordados mais nem um deles estava com Carol. A missão
fica cada vez mais difícil, pois os recicladores são em
grande número. Eles povoam as ruas da cidade, muitos deles vivendo dignamente
da profissão, outros se fazendo de catador para melhor passar e realizar pequenos
furtos, roubos e raptar crianças indefesas. A polícia é acionada. A notícia do
desaparecimento da menina Carol ganha às páginas policiais.Um retrato falado do
suspeito é feito pela polícia. Uma campanha para ajudar a encontrá-la é postada
nas redes sociais. Semanas, meses, cinco anos se passam e nem uma noticia
sequer sobre o paradeiro de Carolina.
Hoje,
13 anos depois do seu desaparecimento,
Carol completa 18 anos. Não tem bolo nem festa, mas a vela para São
Judas Tadeu continua acessa. Seus pais se transformaram em catadores da
esperança e como dois maltrapilhos, todos os dias, saem a perambular pelas ruas
da cidade a cata do que restou da doce e inocente Carol.
Por Uerbet Santos
Nota¹
: Texto ilustrado por foto de catadores de lixo reciclável de minha autoria
Nota²:
Conto baseado em um caso real acontecido em Fortaleza em 10 de outubro de 2012. O
desaparecimento da menina Alanis, cinco anos,
raptada de uma Igreja no Conjunto Ceará , estripada e encontrada morta
em um Matagal no Bairro Antônio Bezerra. O estripador está preso, mas a dor da
família é eterna.
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