(Artigo)
Duas semanas depois de
voltar a ser campeão cearense de futebol 2015, acabando com um jejum de quatro
anos sem levantar a taça, o Fortaleza Esporte Clube fez a sua carreata da
vitória pelas principais avenidas da capital cearense. Durante o trajeto alguns
incidentes foram registrados, mas nada que se compare às cenas lamentáveis de
violência registradas no gramado da Arena Castelão, após o Tricolor de Aço conquistar
o título, divulgadas pela imprensa local com destaque nacional. Especialista buscam
explicações para os atos de vandalismo e selvageria que apagaram o brilho do
espetáculo e mancharam a imagem da torcida alencarina construída nas Copas das
Confederações e do Mundo, considerada uma exemplo de bem torcer. Qual foi o
estopim do episódio? Quem é ou quem são os culpados por tamanha barbárie?
Questionamentos à parte, vou
me ater a um momento relevante que precisa ser observado, e que a meu ver foi decisivo,
para o ato de truculência da torcida com ela mesma, com o patrimônio e com os
profissionais da impressa que lá estavam. Me refiro ao fato atípico ocorrido
nessa decisão entre Ceará e Fortaleza. Aos 45 minutos um time é campeão e no
minuto seguinte deixa de sê-lo. Ou, aos 45 minutos um time já quase campeão,
leva um gol que dá o título para o adversário e no “apagar das luzes” ressurge
das cinzas para a glória.
Essa alternância de
possibilidades se assemelha com “A Divina Comédia”, obra do escritor Dante
Alighieri, onde os versos do poema narram a jornada do personagem Dante que, guiado
pelo espírito do poeta Virgilio, viaja para o inferno, passa pelo purgatório até
conseguir chegar ao paraíso onde está sua amada Beatriz.
Essa troca quase instantâneas
de gritos de “é campeão” possibilitou a permanência das duas torcidas até o
final do evento. Um bloco sólido de pessoas alternando emoções. Ora eufóricos,
em êxtase, ora pasmos, indiferentes e revoltos. Em uma disputa normal de final
de campeonato, onde um dos lados tem vantagem em números de gols e o time em
desvantagem não tem forças para reagir, a torcida é a primeira a “jogar a
toalha”, “pedir pinico”, “pegar o beco”, como queiram.
Mas naquele tarde de
domingo não foi assim. Foi diferente. Foi surpreendente. Foi inusitado. Todos “só arredaram o pé” do estádio depois do
apito final. A partir daí um turbilhão de emoções antagônicas vieram à tona.
Alegria e tristeza. Entusiasmo e decepção. Amor e ódio. Mansidão e revolta. Cidadania
e bandidagem. Tal qual o inferno
descrito por Danti na Divina Comédia, composto de nove círculos, cada qual com
seu tipo de punição. No quinto círculo infernal, por exemplo, Dante e Virgílio chegam ao Rio de Sangue Fervente
onde são castigados os irados. Já no sétimo círculo, eles se deparam com o
Minotauro de Creta, guardião dos três vales, onde são punidos os culpados por
violência. Esse passeio quase instantâneo entre o céu e o inferno deu no que
deu: a panela de pressão estourou.
Resultado: o Duelo de Titãs se transformou no Inferno de Dante.
Uerbet Santos
Fotos (Reprodução da Internet)
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