6/06/15

Duelo de Titãs ou o Inferno de Dante?

(Artigo)
Duas semanas depois de voltar a ser campeão cearense de futebol 2015, acabando com um jejum de quatro anos sem levantar a taça, o Fortaleza Esporte Clube fez a sua carreata da vitória pelas principais avenidas da capital cearense. Durante o trajeto alguns incidentes foram registrados, mas nada que se compare às cenas lamentáveis de violência registradas no gramado da Arena Castelão, após o Tricolor de Aço conquistar o título, divulgadas pela imprensa local com destaque nacional. Especialista buscam explicações para os atos de vandalismo e selvageria que apagaram o brilho do espetáculo e mancharam a imagem da torcida alencarina construída nas Copas das Confederações e do Mundo, considerada uma exemplo de bem torcer. Qual foi o estopim do episódio? Quem é ou quem são os culpados por tamanha barbárie?

Questionamentos à parte, vou me ater a um momento relevante que precisa ser observado, e que a meu ver foi decisivo, para o ato de truculência da torcida com ela mesma, com o patrimônio e com os profissionais da impressa que lá estavam. Me refiro ao fato atípico ocorrido nessa decisão entre Ceará e Fortaleza. Aos 45 minutos um time é campeão e no minuto seguinte deixa de sê-lo. Ou, aos 45 minutos um time já quase campeão, leva um gol que dá o título para o adversário e no “apagar das luzes” ressurge das cinzas para a glória.



Essa alternância de possibilidades se assemelha com “A Divina Comédia”, obra do escritor Dante Alighieri, onde os versos do poema narram a jornada do personagem Dante que, guiado pelo espírito do poeta Virgilio, viaja para o inferno, passa pelo purgatório até conseguir chegar ao paraíso onde está sua amada Beatriz.
Essa troca quase instantâneas de gritos de “é campeão” possibilitou a permanência das duas torcidas até o final do evento. Um bloco sólido de pessoas alternando emoções. Ora eufóricos, em êxtase, ora pasmos, indiferentes e revoltos. Em uma disputa normal de final de campeonato, onde um dos lados tem vantagem em números de gols e o time em desvantagem não tem forças para reagir, a torcida é a primeira a “jogar a toalha”, “pedir pinico”, “pegar o beco”, como queiram. 
Mas naquele tarde de domingo não foi assim. Foi diferente. Foi surpreendente. Foi inusitado.  Todos “só arredaram o pé” do estádio depois do apito final. A partir daí um turbilhão de emoções antagônicas vieram à tona. Alegria e tristeza. Entusiasmo e decepção. Amor e ódio. Mansidão e revolta. Cidadania e bandidagem.  Tal qual o inferno descrito por Danti na Divina Comédia, composto de nove círculos, cada qual com seu tipo de punição. No quinto círculo infernal, por exemplo, Dante e Virgílio chegam ao Rio de Sangue Fervente onde são castigados os irados. Já no sétimo círculo, eles se deparam com o Minotauro de Creta, guardião dos três vales, onde são punidos os culpados por violência. Esse passeio quase instantâneo entre o céu e o inferno deu no que deu:  a panela de pressão estourou. Resultado: o Duelo de Titãs se transformou no Inferno de Dante. 

Uerbet Santos
Fotos (Reprodução da Internet)

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