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11/02/23

HISTÓRIA - Cemitério do Gavião. Um misto de beleza e mistério

Aviso na entrada intriga visitantes:  "Nós, ossos que aqui estamos. pelos vossos esperamos".



Quem entra pelo portão  principal  do Cemitério do Gavião, logo se separa com  um  aviso, quase despercebido, fixado  no portão central: "Nos, ossos que aqui estamos. pelos vossos esperamos. Fui o que tu és, serás o que eu sou."

Qual origem dessa inscrição?

Tal inscrição foi, primeiramente, adotada  na Capela dos Ossos, monumento sinistro,  localizado na Igreja de São  Francisco, na pitoresca  cidade  de Évora, do centro-sul de Portugal, no denominado Alentejo, 

A Capela foi construída no século XVII por iniciativa de três frades franciscanos e decorada por ossos de mais  de cinco mil monges.

Qual o seu significado?

De acordo com estudiosos em religião,  os frades inseriram tal aviso  na Capela para  transmitir a mensagem da transitoriedade e fragilidade da vida humana.


Mensagem essa, que  é  também claramente passada aos visitantes, logo à entrada do Cemitério do  Gavião em São Luís do Maranhão.

Especialistas afirmam que a Capela dos Ossos e suas mensagens textuais e visuais marcam um pensamento do século XVII, convenientemente pouco compatível com a realidade contemporânea, logo seu caráter fatídico e obscuro datam uma existência anterior, que por sua vez engloba valores, crenças e pensamentos que hoje tornam-se conflitantes. 


O Gavião 

Inaugurado em 1855, o Cemitério do Gavião tem esse nome por sua localização na antiga Quinta do Gavião. Desde sua inauguração, o cemitério já teve diversos nomes: Cemitério de São José da Irmandade (quando era administrado pela Irmandade da Misericórdia, uma organização católica), Cemitério de São Pantaleão (Nome oficial de registro) e, por fim, Cemitério do Gavião.

Fundado após uma epidemia de varíola que abateu parte da população de São Luís, o Cemitério do Gavião segue os molde europeu de cemitérios próximos a igrejas, o que facilitava o cortejo do enterro.

Localizado no bairro da Madre Deus, conhecido como o bairro mais boêmio da cidade, o Cemitério do Gavião incorporou-se à região  e no Dia de Finados, ae transforma em um formigueiro de pessoas em meioca  ambulantes  que movimentam a economia  informal com venda de  água, coroas de  flores, velas e serviços  com limpeza e pintura de sepulturas.

E quando a noite cai, entra em cena o som das espátulas a raspar o "choro" das velas, vendidos depois para as fábriquetas reciclagem a cera e produzirem novas velas.

Ilustres

Entre as pessoas ilustres enterradas no  Gavião, estão: o Barão de Grajaú, o ex-governador Benedito Leite, o escritor Aluísio de Azevedo, o carnavalesco Joãosinho Trinta e o poeta Nauro Machado.

O Gavião, que outrora tinham quatros  entradas, agora só possui dois acessos, o principal, pela praça da Saudade, e um lateral  pelo bairro do Lira.

Das 16 seções que compõem a extensão do cemitério, chama a atenção o conjunto arquitetônico artístico de esculturas de estilo neoclássico e os desenhos que moldam os jazidos.

E tal qual o Monumento dos Ossos em Portugual, guarda um misto de beleza  e mistério.

Por Uerbet  Santos
Foto de época: Gaudencio Cunha