Imigrante chinês foi pioneiro no ramo de lavanderia e tinturaria em São Luis do Maranhão
Em 1810, os primeiros grupos de chineses foram trazidos de Macau ao Rio de Janeiro por D. João VI para iniciar o cultivo de chá no Brasil. Era sonho do então príncipe-regente repetir na colônia o comércio de chás entre a China e a Europa.
Porém, a entrada no porto do Rio de Janeiro do navio Malange, em 15 de agosto de 1900, vindo de Lisboa com imigrantes chineses na sua tripulação, marca a chegada oficial dos chineses no Brasil. Motivo pelo qual 15 de agosto foi oficializado o Dia Nacional da Imigração Chinesa.
Contudo, o grande fluxo da imigração chinesa se deu a partir da década de 1950. Os principais motivos dessa migração foram às guerras que estavam ocorrendo na China, e que ocasionavam a falta de alimentos no país.
Os dois principais problemas enfrentados pelos imigrantes mais antigos foram a dificuldade em aprender o português e de conseguir emprego.
Cultura chinesa no Brasil
As contribuições da comunidade chinesa para desenvolvimento do Brasil são inúmeras. Além dos restaurantes típicos, eles trouxeram a técnica da acupuntura, as artes marciais, o horóscopo chinês, contribuições no campo da medicina e incorporaram os fogos de artifício na cultura do país que os acolhera, entre tantas outras.
Os imigrantes do Império do Meio, foram os primeiros a abrir lavanderias comerciais no país, no século XIX, e contribuíram para o desenvolvimento do setor.
As lavanderias chinesas eram geralmente pequenas e simples, mas ofereciam um serviço de qualidade a preços acessíveis.
Atendiam a demanda da população pobre e da classe trabalhadora, que não tinha tempo ou condições para lavar as roupas em casa.
Com o crescimento da população urbana e a expansão da indústria têxtil, as lavanderias chinesas se tornaram um negócio lucrativo.
No início do século XX, elas já eram uma presença comum nas grandes cidades brasileiras.
Os imigrantes chineses também contribuíram para o desenvolvimento de novas tecnologias de lavagem e tingimento que eram utilizados na China há séculos.
Os Chung no Maranhão.
Os imigrantes chineses se estabeleceram em todo o Brasil, mas as maiores concentrações se encontram nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Maranhão.
Na capital maranhense, o segmento de lavanderias e tinturarias foi desbravado por Chung Hong. Um jovem imigrante chinês, cujo primeiro desafio foi chegar à São Luís de navio com seu filho, Chung Ling.
Relatos de seus familiares apontam que a viagem de Chung foi longa e sofrida. Isto porque à época (década de 30) a viagem marítima da China para o Maranhão levava cerca de 45 dias.
A distância entre os dois pontos é de aproximadamente 20.000 quilômetros, e os navios da época viajavam a uma velocidade média de 400 quilômetros por dia.
(Confira no final da matéria, o percurso da viagem de Chung Hong da China ao Maranhão)
De acordo com seus descendentes , "Pai e filho enfrentaram diversos desafios, como o clima quente e úmido, a falta de conforto nos navios e o risco de doenças".
No entanto, a rota náutica era um importante meio de comunicação entre a China e o Maranhão. Muitos imigrantes chineses, tal qual os Chung, chegaram ao estado nessa época, atraídos pela economia local em expansão em busca de emprego e novas oportunidades
Lavanderia Nova China
Vencido o primeiro desafio, Chung Hong, aporta em São Luís, se estabelece e funda a Lavanderia e Tinturaria Nova China, situada na rua da Paz, n° 523, no centro da cidade.
"A Lavanderia e Tinturaria Nova China é uma empresa inovadora e moderna especializada em Tinturaria. Referência no quesito qualidade, atendimento e Preço", apregoada a propaganda da L & TNC à época.
O pesquisador Ramssés de Souza, identificou registros da “Tinturaria China”, de propriedade da família Chung, no jornal O Imparcial de 15 de janeiro de 1939.
De acordo com ele, não houve um fenômeno migratória tão forte dos chineses na época, como aconteceu com os japoneses.
“Eu acredito que os chineses, vêm para o Maranhão, até antes dos japoneses, então, esses chineses que vemos na Rua de Santana, não são novidades para maranhenses. Os Chung, talvez tenham sido a primeira família asiática que veio para o estado”, afirmou o historiador.
Chung Hong trabalhou duro para construir seu negócio e, ao longo dos anos, a lavanderia se tornou uma das mais bem-sucedidas do estado. É parte importante da história da comunidade chinesa no Maranhão
Estima-se que atualmente vivem no Brasil cerca de 300 mil chineses e descendentes, dos quais um número superior a 130 mil moram em São Paulo.
No Maranhão, muitos chineses atualmente, comandam pastelarias, lanchonetes e o comércio de eletroeletrônicos no entorno da Rua Grande, principal centro comercial de São Luis.
A China é desde 2009 o maior parceiro comercial do Brasil, fato que reflete o aumento da importância geopolítica do país na virada do milênio e gera mudanças no perfil migratório
Cinco gerações dos Chung
Aida Silva esposa de Chung
Em São Luis, o comerciante conheceu Alda Silva com quem se casou e teve mais seis filhos: Luiz, Maria José (Zezé), Maria da Ascenção (Cecé), Maria de Jesus (Jesus), Maria Sebastiana (Seba) e Tay Luís.
O chinês, como Chung era conhecido, gerou uma prole com mais de 120 descendentes. São 24 netos, 50 bisnetos e 41 tataranetos, que residem no Brasil, nos EUA e em países da Europa.
Seus filhos e filhas enverredaram por outras profissões e também se destacaram na sociedade.
A exemplo do advogado Luiz Chung (foto), falecido aos 37 anos, quando ocupava o cargo de juiz titular da Comarca de Rosário. Em homenagem póstuma, seu nome foi dado ao Fórum Eleitoral de Icatu e ao prédio do fórum da Comarca de Mirinzal.
Ja uma de suas filhas, a médica Maria José Chung, formada em medicina em 1968, foi a primeira neurologista no Maranhão. Em 2017, ela recebeu pelo Conselho Regional de Medicina do Maranhão - CRM-MA, o Diploma de Honra ao Mérito pelos relevantes serviços prestados à medicina do estado.
Em 2019 foi destaque na Noite da Medicina Maranhense. Seu neto Guilherme Chung, formado em medicina pela UFMA em 2021, continua o legado da avó.
Outra filha de Chung Hong, Jesus Chung, falecida em 2022, continuou com o legado da Lavanderia do Chinês, como era conhecida, durante muitos anos.
Una vez por ano, a família Chung se reune para rememorar as histórias e os ensinamentos de Chung Hong e sua jornada da China para o Maranhão.
Este ano, o encontro dos Chung, aconteceu em 17 de outubro. Naquela oportunidade, os laços familiares foram estreitados, aconteceu o reencontro emocionado com familiares distantes.
Durante o encontro, os descendentes de cada filho do Chung Hong usaram camisetas personaliadas (foto) em diversas cores para marcar o o evento famíliar
Ao final do encontro, cinco gerações depois do patriarca Chung Hong aportar em SãoLuís do Maranhão, fica uma certeza entre eles:
"Chung Hong era um visionário, que será lembrado como um homem que lutou para construir um futuro melhor para sua família e por extensão para a comunidade chinesa em São Luís."
Confira o percurso da viagem de Chung Hong da China ao Maranhão que durou 45 dias, na década de 30.
-O navio partia de um porto chinês, como Xangai ou Hong Kong.
-Navegava pelo Oceano Índico, fazendo escalas em portos como Colombo, no Sri Lanka, e Aden, no Iêmen.
-Atravessava o Canal de Suez, no Egito.
-Navegava pelo Mar Mediterrâneo, fazendo escalas em portos como Alexandria, no Egito, e Nápoles, na Itália.
-Atravessava o Oceano Atlântico, fazendo escalas em portos como Lisboa, em Portugal, e Rio de Janeiro, no Brasil.
-Finalmente, chegava ao Maranhão, fazendo escalas em portos como Belém, no Pará, e São Luís, no Maranhão.
Por Uerbet Santos
Produção de Jornalismo: Karen Chung
Fotos: Arquivo pessoal da família Chung
